ESPETÁCULO POLÍTICO-MIDIÁTICO DE UMA “CONDUÇÃO COERCITIVA”: DESLIZAMENTOS, OPACIDADES, DEFORMAÇÕES

Autores

  • Rafael de Souza Bento Fernandes
  • Maria de Fátima Pereira de Sena

Resumo

O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, conforme determinação do juiz Sérgio Moro, respondeu a um processo de condução coercitiva para prestação de depoimentos à “operação Lava a Jato”, em São Paulo, no dia 04/03/2016. Logo após, concedeu uma entrevista coletiva na sede do Partido dos Trabalhadores (PT) em que classificou o episódio como “lamentável” e “desnecessário”. No encerramento dessa entrevista afirmou: “Se quiseram (sic) matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. E a jararaca tá viva, como sempre esteve”. A declaração foi capa da revista Veja, número 2469 (03/2016), que denominou a edição de “Desespero da Jararaca”, ilustrada por uma fotografia do ex-presidente Lula transfigurado como a criatura mitológica grega Górgona (Medusa). No presente estudo, investigam-se, sob a perspectiva da análise do discurso de orientação francesa, os processos de deslize de sentido que esse enunciado provoca, sob duas formações discursivas dicotômicas (antigovernista e governista). Delineia-se a hipótese de leitura segundo a qual as condições de produção de instabilidade político-econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (2015-2016), que culminou no processo de impeachment, promovem uma polarização política que torna evidente, em um caso, que o governo até então vigente do partido dos trabalhadores (PT) é prejudicial ao Brasil e, no outro, que o governo de Rousseff é vítima de maquinações de “golpistas”. Esses deslizamentos e deformações do espetáculo político-midiático belicoso “desopacizam” a história, concebendo-a como cisão entre heróis e monstros.

 

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Publicado

2023-11-23